segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Aborto?

Após uma primeira semana de posts leves e agradáveis, comecemos aqui o trabalho de lidar com a divergência. Debatamos, pois, o aborto, tema que ganhou destaque nos grandes meios de comunicação por conta de seu apelo eleitoral.
Para começo de conversa, sugiro duas leituras: uma reportagem da Folha (FSP) de junho de 2007 (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u307057.shtml) e a coluna de hoje de Luiz Felipe Pondé na FSP (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1110201016.htm).
Ressalto aqui alguns trechos dos dois textos.
Reportagem de 06/07:
"O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou nesta segunda-feira que, para cada três bebês nascidos vivos no Brasil, ocorre um aborto induzido. Segundo ele, uma pesquisa da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) revelou que, em 2005, ocorreu 1,04 milhão de abortos clandestinos no país.
De acordo com o ministro, cerca de 220 mil mulheres realizam curetagens em decorrência de abortos no SUS (Sistema Único de Saúde), anualmente. "Se considerarmos que o aborto é um crime, todos os dias, 780 mulheres teriam que ser presas, sem contar seus médicos e, eventualmente, seus companheiros", afirmou Temporão"
"Para o ministro, o feto tem direito à proteção jurídica a partir da 12ª semana de gestação, quando começa a formação do sistema nervoso central. 'Antes, não há consciência nem dor". Segundo o ministro, a aceitação da descriminalização do aborto é um "processo de amadurecimento da sociedade'."
Pondé:
"Não preciso de argumentos teológicos para ser contra o aborto. Sou contra o aborto porque acho que o feto é uma criança. A prova de que meu argumento é sólido é que os que são a favor do aborto trabalham duro para desumanizar o feto humano e fazer com que não o vejamos como bebês. E não quero uma definição "científica" do início da vida porque, assim que a tivermos, compraremos cremes antirrugas 'babyskin' com cartão Visa."
"E não me venham com 'questão de saúde pública'. Esgoto é questão de saúde pública. A defesa do aborto nessas bases é apenas porque o aborto legal é mais barato. Resumindo: 'Safe sex, cheap babies'. E não me digam que o feto 'é da mulher'. O feto 'é dele mesmo'. E não me digam que 'todo o mundo avançado já legalizou o aborto', porque esse argumento só serve para quem 'ama a moda' e teme a solidão.
Não pretendo desqualificar a angústia de quem vive esse drama. Longe de mim! Mas em vez de gastarmos tanta 'energia social' na defesa do aborto, por que não usarmos essa energia para recebermos essas crianças indesejadas?"
"Sou contra a legalização do aborto porque o considero um homicídio. Muita gente não entende essa implicação lógica quando supõe que seriam razoáveis argumentos como: 'A legalização do aborto permite a escolha livre. Se sou contra, não faço. Se minha vizinha for a favor, ela faz'.
Agora, substitua a palavra 'aborto' pela palavra 'homicídio', como fica o argumento? Fica assim: 'A legalização do homicídio permite a escolha livre. Se sou contra, não faço. Se minha vizinha for a favor, ela faz'."

Agora, é hora de ouvir o que vocês têm a dizer. Sugerem outras leituras? Há outros enfoques importantes?
Lembrem-se de que aqui pretendemos uma discussão civilizada. Devemos, portanto, respeitar as opiniões com as quais não concordamos. Isso não quer dizer que devamos simplesmente aceitá-las; quer dizer, sim, que precisamos de argumentos para sustentar nossa visão e para esclarecer o motivo do descrédito na tese alheia.

Mãos à obra! Vejamos aonde nos leva este exercício do pensar!

8 comentários:

  1. Costumo muito levar essa discussão para o lado religioso, uma vez que devemos ver o aborto como um pecado. Todavia, mesmo seguindo essa linha de pensamento ainda crio dentro de mim mesmo dúvidas quanto a tal assunto. Realmente acredito que o aborto em caso de estupros deva ser uma opção da vítima (opção já garantida por nossa constituição).
    Quando analiso a questão por um lado mais racional, porém, não me restam dúvidas, também, de que a legalização do aborto seria um crime contra toda a evolução no conceito de civilização e direitos humanos que já se foi alcançada. Como bem descrito por Pondé (na coluna da Folha) o aborto
    nada mais é que um homicído. Logo, a legalização de tal ato independentemente do contexto que se tenha seria um absurdo. Se o ser humano se acha tão civilizado a ponto de espalhar tal bem civilizatório a países africanos e latino-americanos (desculpa esfarrapada para imperialismos do sec. XIX), será que também não o seria a ponto de controlar a ocorrência da gravidez indesejada (na qual se chega a tal ponto em que até se cogita o aborto)? Ou será que como qualquer outro animal não consegue controlar os instintos e simplesmente tomar posse dos métodos preventivos tão bem oferecidos?
    Já é tempo de se parar de olhar para o feto e querer culpá-lo pelos problemas. Afinal de contas o coitado nem se quer tem o direito de defesa. É tempo dos indivíduos tomarem vergonha na cara e se conscientizarem do verdadeiro significado de civilização e direitos humanos. Obviamente as consequências de abrir mão do aborto não devem ser fáceis a muitas das jovens ou mulheres que gostariam de optar por tal escolha. Mas cabe à sociedade tratá-las com dignidade e carinho (familiares e próximos) ,algo que também vergonhosamente não é feito hoje em dia

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  4. Bom , primordialmente, respeito a opinião do Lucas, mas discordo da opinião deste. Sou a favor da legalização do aborto. Pois esta é um processo necessário atualmente. Com possibilidades de dicussões se seria um projeto de curto ou longo prazo.

    Muitos dizem muito sobreo feto. Um ser humano (Ou um pseudo- ser humando ? Varia com cada ponto de vista) Mas, coisa alguma diz-se sobre as mães , sendo estas jovens ou mais velhas, que sofrem com uma gravizez indesejada. Minha tese baseia-se nos seguinte dados : No Brasil , segundo o Ministério da saúde, são feitos cerca de 1.4 milhões de abortos ilegais.
    Outrossim , de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) são estimadas -- anualmente--a morte de 66 mil mulheres ao redor do mundo pelo fato de fazerem o aborto em clínicas ilegais.

    Muitos destes números são devidos -- incrivelmente-- a falta de informação do casal.Não devemos culpar um casal pela falha estatal no fornecimento da educação pública básica. De maneira que o casal torna-se vítima.

    Concomitante a legalização seria feito uma reforma educacional no país. Para a conscientização da população.Haja vista os os países desenvolvidos. Onde o ensino é de qualidade. Com efeito , a discussão sobre o aborto é menor. Assim , como no Brasil. Todavia , por motivos diferente. Pois, a população daqueles é intruída e tem noção das consequências que uma gravidez acarreta.

    Assim , após essa reforma no sistema educacional, discutir-se-ia as possibilidades da continuação do projeto da legalização ou retroceder á criminalização do processo.Porém , vale reiterar : Pontualmente a descriminalização faz-se necessária

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  5. A questão do aborto é demasiadamente complicada para fazer afirmações exclusivamente "racionais", religiosas, médicas ou políticas. Devemos, no entanto, considerar todas estas perspectivas para chegar a algum tipo de conclusão. EU considero o aborto uma prática tenebrosa e absolutamente dispensável, mas tratá-lo como um crime é um ato, de certa forma, errôneo.

    Em primeira análise, a proibição deste não diminui sua efetuação. Aliás, vale lembrar que no Brasil, onde o aborto induzido é proibido por lei, ocorrem aproximadamente 1.4 milhões de abortos ilegais por ano (segundo o Ministério da saúde). Ou seja, milhares de mortes não apenas de fetos, mas também de mulheres. As péssimas condições em que estes abortos ilegais são feitos tornam o ato ainda mais desumano, trágico e "pecaminoso".

    Não importa se o feto é ou não uma vida à parte a da mãe, mas, sem esta -obviamente-, ele sequer existiria. Sim, a responsabilidade da fecundação, salvo casos de estupro, são dos pais. Contudo, muitos "acidentes" ocorrem e, inegavelmente, estão diretamente relacionados à falta de informação e conscientização. O governo deveria dar um enfoque maior na educação, na informação sobre os métodos contraceptivos, ao invés de tentar agradar as diversas Igrejas (que consideram os uso de contraceptivos uma interrupção da vida humana) para conseguir popularidade ou aprovação.

    A população brasileira, em grande parte conservadora, preconceituosa e machista, deveria ampliar seus horizontes e perceber não são apenas os bebês que "não podem se auto-defender" na sociedade, mas também os que não possuem conhecimento ou escolaridade. E as crianças que estão passando fome nas ruas, nos ambientes que conhecemos e vivemos? São defendidas por quem? Por esmolas e caridade de poucos que não as ignoram? Estão definhando no mundo dos humanistas hipócritas.

    Enfim, respeito as opiniões contrárias, mas vejo a descriminalização do aborto como necessária e benéfica para a sociedade atual como um todo, principalmente se for vinculada à informação.

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  6. Entendo a opinião bem apontada por você João. Todavia, não creio que o país como um todo deva se render a esse problema tão facilmente e simplesmente legalizar o aborto. Poderíamos comparar tal proposta de legalização com um terrorista que faz exigências para que não mais desfira ataques à população (guardadas as devidas proporções). Tal qual o terrorista faz exigências que soem plausíveis de serem executadas a fim de se salvar um bem próprio, a legalização do aborto vem como solução a problemas que poderiam ter sido evitados de outras maneiras e se mostra, em minha opinião, uma medida muito egoísta por parte ser humano.

    Outra comparação, ainda que soe um pouco estranha, seria legalizar o furto se pensando naqueles que o fariam em caso de necessidade (supondo que este caso não fosse realidade). Enquanto muitos praticariam o furto em casos como o proposto, outros se aproveitariam da lei para furtarem com qualquer que fosse a intenção. Legalizar totalmente o aborto seria abrir uma brecha para que pessoas cometessem tais ações de forma inconsequente nos mais tolos casos. O aborto já é possível, constitucionalmente, em casos de estupro e em casos em que há risco de vida da mãe. Ou melhor, é como o furto, que já é legalizado em casos de necessidade, mas que de maneira alguma deve ser legalizado em se pensando em pessoas que justifiquem isso querendo beneficiar-se.

    Não há necessidade da descriminalização e, de maneira alguma, devemos oprimir aquelas que engravidam indesejadamente em momentos não propícios da vida, mas devemos ver no fato de não abortarem um ato de respeito aos direitos humanos e à ética e civilidade já alcançadas pela socidade contemporânea.

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  7. Lucas, compreendo sua opinião. Não pense que o simples fato de você me dar um beijo na aula de despedida da Margaret fará que minha opinião mude.
    Minha tese continua inexorável. Até porque a sociedade brasieira , quanto à justiça , é demasiadamente falha.

    Com efeito , há diversos casos onde uma cidadã possui o direito do"aborto legal" e ela não consegue fazê-lo. Outrossim , com a -- quase-- ausente gestão de políticas públicas, voltadas à educação , reitero, centenas de milhares de jovens ( principalmente) ficam à margem da sociedade. Isto é inadmissível! Um país que aspira à modernidade e ao primeiro mundismo, ter uma parcela --significativa-- da população marginalizada torna-se , no mínimo , quixotesco.

    Por conseguinte, não é possível que um país com as dimensões do Brasil , continue obrigando crianças de 14, 15 anos serem pais e mães. Tudo por falta de informação. Esta que é dever estatal.Vale lembrar que o contrato social população - Estado , foi estabelecido para que a população não fosse massacrada por ela mesmo. Até porque "o Homem é lobo do Homem".

    Portanto , ao cabo, com a contínua criminalização do aborto o Homem continuará sua própia destruição. Outrossim, o contrato - social será rompido -- mais uma vez.

    Um abraço a todos .

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  8. Caros,
    Creio que este blog já cumpre sua missão. É um prazer ler os comentários de vocês e perceber a evolução tanto do texto quanto dos argumentos aqui apresentados.
    Queria ter participado mais desta refrega intelectual, mas o tempo está escasso... deixei separados mais dois textos interessantes que li a respeito, mas não tive tempo de postá-los... fica para uma próxima.
    Não quero com este comentário fechar a questão. Quem quiser ainda opinar sobre o assunto terá sempre, neste emaranhado de elétrons, o espaço para pronunciar-se. Eu mesmo, após a correção de provas, penso em deixar aqui minha opinião (contrária, diga-se de passagem) acerca da legalização do aborto.
    Enfim, queria apenas agradecer mais uma vez pela participação de vocês!
    Abraços!

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