Nosso combalido blog agoniza abraçado ao cavalo do bigodudo que inspirou nosso nome (http://duvida-metodica.blogspot.pt/2012/06/as-ideias-do-filosofo-nietzsche-num.html - 43'15'').
2012 foi um ano difícil, mas não conseguiu acabar com o mundo, nem com as boas intenções que nos movem. Desta vez não farei promessas nem previsões (muitas delas se esgotaram míopes), muito embora -entre um homem com cara de árvore e uma árvore com cara de homem- vislumbremos a possibilidade de uma ressurreição mítica, facebúquica, em outra azulada dimensão, desta vez digo que não direi nada.
Faço, porém, o desabrochar outonal da flor de verão! Fora de época, fora do esquadro da beira da estrada (que poderia ao menos atrair o olhar curioso do viajante estradeiro), apupo o jardim que me foi confiado. Publico, enfim, os poemas do concurso do ano passado. O alarido talvez atraia um olho ou outro que, embrenhando-se em minha azinhaga, pouse sobre os versos deleitosos e retire-se espalhando o pólen-palavra! E dessa mirífica fecudação recolher-se-ão doze cestos de frutos (que amadurecerão no inverno)! Ou isso, ou se ouvirá a lenda do louco ululante e suas flores-linguagem, ignoradas por quem é levado pela vida, mas guardadas como tesouro por quem leva a vida com poesia. Dizem que as tais flores são capazes de fazer ver e ouvir melhor, e há relatos sobre um filipino que há 77 anos só se alimenta delas.
Estão abaixo os dez textos inscritos! Os cinco primeiros, em ordem de pontuação; os outros cinco, em disposição aleatória.
Grande abraço!
Assinado: Dionísio, o Crucificado (hehe - ganha um livro do Nietzsche o primeiro que explicar adequadamente a "piada")
Obs. Os textos tiveram de ser digitados novamente, o que pode ter criado divergências em relação aos textos originais. Por isso peço encarecidamente aos autores que revisem seus poemas e me comuniquem os equívocos.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
1º Lugar: Apagão, de Heitor P. Casagrande sob o pseudônimo de Antor
Apagão
Acabou por um
dia a força na cidade.
A Luz apagou
junto das outras artificial idades.
Parou também a
prensa e
a bomba de
gasolina engasgou
(tanto a
aditivada quanto a comum);
Obviamente
desagradou meia dúzia de empresários
vociferando,
celulares pendendo das mãos, inúteis,
Mas agradou meia
dúzia de alunos que baliam nas carteiras-jaulas.
E um operário de
chaves inglesas no lugar das mãos, parou também.
E parou o
r-r-r-r, outrora eterno.
E cessaram os
deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos.
Cessou o influxo
demoníaco de luzes sibilantes, piscantes, dinâmicas
Absurdamente
dinâmicas!
As luzes, que
patamarizavam as coisas banais, grandes, inúteis
Caiu o patamar.
Apagou a luz.
Por
um instante metafísico, não houve nada.
Mas logo após um
Fogo acendeu,
Num casal que se
amou no escuro
E numa chama de
vela que dançava projetada nos céus.
Nos céus, por
deus!
Acendeu o fogo
também na família de cara estranha
que sorriu e se
assentou sussurrando na sombra
Como foi o dia,
Como foi a aula, do que falariam
pouco importa,
dado o quase surreal fato de simplesmente falarem.
E deu-se o lampejo
de humanidade, incendiou da escola
à fábrica e
derreteu na chama as chaves-mãos do operário
Que com cinco
dedos, agora conscienciosamente humanos
Sentou pra
conversar com José
Que pouco
perguntava E agora.
E todo o
universo renasceu, dir-se-ia nunca ter existido
E houve amor
Pois num
instante metafísico, foram todos humanos.
Antor.
2º Lugar: Não te esqueças do óbolo, de Lucas F O. de Oliveira sob o pseudônimo de Caron Thanatos
Não
te esqueças do óbolo
Quanta aversão tenho eu
Á corrupção engulfadora que é a natureza
humana
Quantos males já não fizeste em vida
Que, sem ao menos passarem por tua
conturbada consciência
Passaram a dissolvido azedume que
fervilha em teu sangue pútrido e borbulha
Cujo derramamento vingas e lamentas
Enquanto fugas e covarde o carregas e
ostentas!?
Que te aguarda aqui, meu podre
É uma infinidade pior que a simples
decadência e esquecimento:
Não terás o manto da noite silenciosa
para sanar teu absurdo desconforto,
Não terás seis palmos de solo como
cobertor para combater teu eterno frio.
Não terás teus arrependimentos como
espinhoso travesseiro.
Tampouco como único companheiro um velho
coveiro.
Teu legado não constará nos corações
magoados de tantos;
Nem em destruída lápide, dessacra,
escarrada e derradeira.
Nem mesmo os vermes do submundo
lançar-se-ão sobre teu imundo corpo,
Carregados de enojada fome insaciável e
glutonia pelo podre.
A impureza que rasteja em tuas entranhas
e as revira não dissipar-se-á em fogo fátuo.
Logo, quando o tempo for atemporal e
escorrer etéreo,
O conforto em si escapará de tua
memória, assim como todo e qualquer refrigério,
Aonde vais,
Te aguardará legião de miríades de
incontáveis horrores.
Tua soberba e prepotência serão teus
grilhões,
Tua ganância e avareza, tuas algemas.
Tua profaneidade e calúnia, teu bevor.
E cada um de teus pecados será dentelada
glaive
Empunhada por monstruosidades que virão
a te justificar.
Cada uma de tuas cruéis atrocidades será
afiada presa e garra
Dos leviatãs e bestas que virão a te
fazer pagar.
Pagarás com tuas próprias decompostas
fibras e tóxico sangue
Pela dor que induziu ao couro alheio.
Até a demência de ti enojamento terá,
Enquanto infesta tua maldita mente
amaldiçoada.
O fogo queimará constantemente o antigo
receptáculo de tua alma,
Enquanto o frio incapacitante te tirará
dolorosamente os sentidos e o sono.
Vagarás uma escura terra de
incomensurável horror tamanho
Que nem mesmo o sangue que escorrerá de
teus olhos o impedirá de vê-lo,
Dura penumbra será lar de teu eterno
sofrimento.
Então entrai, mortal!! Adentrai logo o
teu leito.
“Cair desta noite será o último que
verás, isto eu prometo”.
Caron Thanatos
3º Lugar: Salto insano, de Artur Naddeo Júnior sob o pseudônimo de Barcos Guimarães
Salto Insano
A
gélida brisa afaga suas têmporas
Da
elevada ponte vislumbra pontos
Acima
são estrelas, intangíveis
Abaixo
são pessoas, incompreensíveis.
A
alma almeja ascender ao celestial
o
corpo impõe pelo concupiscente
Imperturbavelmente
dicotômico
Sua
sublime sina será silente
Verga
sobre o batente da ventana
As
supostas asas desabotoam
Cai
impassível, solene, sozinho
A
solução irracional ao problema...
Enquanto
a alma escala ao céu
o
corpo desalenta ao concreto.
Barcos
Guimarães
4º Lugar: Amor de ioiô, de Mário César de B. Rocha sob o pseudônimo de Mr. Jones
Amor de ioiô
Ele
já vem...
Já
está chegando...
Quase
posso tocá-Io!
Mas
me deixa, desenrolando.
E
como enrola!
Vem
sem nunca chegar,
e
vai sem nem me dar bola.
Saltita,
faz graça e dança.
Dá
a volta no mundo de minha mão,
mas
meu coração nunca alcança,
girando,
preso ao mundo de seu cordão.
E
quando já não me dói a distância,
o
cordão retesa e na mão me pesa!
Quando
a última lembrança sua já ia se apagando,
lá
vem o maldito cordão,
enrolando...
(Mr.
Jones)
5º Lugar: Uma ode à batata, de Juliana Yip Chan sob o pseudônimo de Heitor Beilschmidt
Uma Ode à Batata
Oh,
rico tesouro da terra
que
minh'alma enches de fé!
Seja
na Cidade ou nas Serras,
força
que me sustenta de pé!
Quanta
alegria trouxeste ao velho Mundo!
Tuas
raízes retiradas das Américas,
deram
esperança aos imundos
com
teus polissacarídeos, raiz emérita!
Salvem,
salvem, gerações que virão!
Erguei
suas armas nesta nutritiva batalha
contra
a maligna e vil Má-Alimentação!
Sentai-vos
ao altar, mesa sagrada.
Nossas
reservas energéticas se recarregarão.
Abençoada
seja, oh, sacra batata!
Heitor
Beilschmidt
Nas asas da Verdade, de Veridianna B. Penhalber sob o pseudônimo de Belbellita
Nas Asas Da Verdade
Parando para
pensar,
Sempre estou a
borboletear,
Adoro deixar a
mente vagar,
E nessa brincadeira,
Já deixei tanta
coisa pelo ar.
Quantas coisas,
não imaginar...
Como seria se
todos soubessem a verdade,
Desta realidade?
Mas na verdade,
Todos teriam que
deixar
Suas borboletas,
a vagar...
A voar pelo ar
O ar do mundo da
vida...
Parar de usar,
A verdade como
mentira
E a mentira como
verdade.
Lindas
borboletas a vagar,
A voar pelo ar,
Como seria
nadar,
Sem respirar?
Como seria
cantar a realidade,
Sem se
distanciar da verdade?
Os pensamentos
que minhas pequenas amigas
levam em suas
asas, se encontram,
Desmontam-se e
agrupam-se.
Novamente,
parando para pensar...
Parando as
borboletas no ar
Qual a
semelhança entre um corvo e uma escrivaninha?
Ninguém sabe na
realidade,
Mas todos fingem
que sabem a verdade.
Belbellita
Blackout, de Fernando H. Minagawa sob o pseudônimo de João
Blackout
TV
ligada falando, só
o
homem cansado, desgastado, exausto
seus
olhos pescam
a
visão falha
a
luz da TV entra e sai
as
pálpebras caem
a
escuridão reina
assustado
acorda
esta
perdendo tempo
com
pressa apaga a TV
pena
que já é impossível desligar-se...
Amore non debita, de João Guilherme dos S. P. Amaral sob o pseudônimo de Cyprinus Carpio
Amore
non debita
Jeová ab ovo deu o arbítrio de amar à
humanidade
Porém nem todo amor é correspondido
E nem Ulisses com sua bondade
Poderia tornar este problema resolvido
O amor não correlato
Nem com um delgado cendal pode dar certo
E se seu amor não lhe trata como amado
Tente outro que possa estar por perto
Este pode não ser um Relê Álvares de
Azevedo
Todavia se te ama já é um bom tramite
É o que não te deixará desamparado
Aquelas quimeras perdidas
Impenderão ao passado de nossas vidas
Juntamente a amores antigos
Furacão revestido em ouro, de Miguel A. Motta sob o pseudônimo de Somnium Volitans
Furacão Revestido em Ouro
Quero
entender muitas coisas
o
seu sorriso, o seu esplendor
e
o porquê de não estarmos juntos.
Porque
em mim dor e caos crias
e
esta tempestade sentimental,gritos...
A
harmonia do desespero que quer valor
As
harpas tocam rock demoníaco
O
tridente clama a justiça
e
mesmo assim não a terei comigo.
Porque
me tortura ser divino!
E
no meio do meu coração paradisíaco
cresce
esta incontrolável vontade submissa
de
com você ser mais que um amigo
para
que conclua minha viagem como paladino
Evoque, de Davi A. Jeremias sob o psudônimo de Fernando Marcos Octavius
Evoque
Chamaste!
Chamaste!
e
tu vieste...
Gélido
ar vinha a face
o
quadro a sua frente estremecia
Será
que Dorian Gray retomará?
Não!
Já disse que não! Dorian nunca existiu!
Será
Ele?
Não!
Tal transcendência nunca falaria comigo
Quem
é ?! Quem é ?!
Maldito
Seja!
Teu
silêncio intrépido
me
esfaqueia, perfura minhas entranhas
ininterrupto,
intrínseco sofrimento
Se
Pára !
Separa-te a alma!
Liberte-se
do corpo!
Liberte
da dor!
A
Dor é para os que ficam
E
aos que ficam
Resta
apenas a Condolência...
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