Apagão
Acabou por um
dia a força na cidade.
A Luz apagou
junto das outras artificial idades.
Parou também a
prensa e
a bomba de
gasolina engasgou
(tanto a
aditivada quanto a comum);
Obviamente
desagradou meia dúzia de empresários
vociferando,
celulares pendendo das mãos, inúteis,
Mas agradou meia
dúzia de alunos que baliam nas carteiras-jaulas.
E um operário de
chaves inglesas no lugar das mãos, parou também.
E parou o
r-r-r-r, outrora eterno.
E cessaram os
deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos.
Cessou o influxo
demoníaco de luzes sibilantes, piscantes, dinâmicas
Absurdamente
dinâmicas!
As luzes, que
patamarizavam as coisas banais, grandes, inúteis
Caiu o patamar.
Apagou a luz.
Por
um instante metafísico, não houve nada.
Mas logo após um
Fogo acendeu,
Num casal que se
amou no escuro
E numa chama de
vela que dançava projetada nos céus.
Nos céus, por
deus!
Acendeu o fogo
também na família de cara estranha
que sorriu e se
assentou sussurrando na sombra
Como foi o dia,
Como foi a aula, do que falariam
pouco importa,
dado o quase surreal fato de simplesmente falarem.
E deu-se o lampejo
de humanidade, incendiou da escola
à fábrica e
derreteu na chama as chaves-mãos do operário
Que com cinco
dedos, agora conscienciosamente humanos
Sentou pra
conversar com José
Que pouco
perguntava E agora.
E todo o
universo renasceu, dir-se-ia nunca ter existido
E houve amor
Pois num
instante metafísico, foram todos humanos.
Antor.
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