quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

1º Lugar: Apagão, de Heitor P. Casagrande sob o pseudônimo de Antor


Apagão

 

Acabou por um dia a força na cidade.

A Luz apagou junto das outras artificial idades.

Parou também a prensa e

a bomba de gasolina engasgou

(tanto a aditivada quanto a comum);

Obviamente desagradou meia dúzia de empresários

vociferando, celulares pendendo das mãos, inúteis,

Mas agradou meia dúzia de alunos que baliam nas carteiras-jaulas.

E um operário de chaves inglesas no lugar das mãos, parou também.

E parou o r-r-r-r, outrora eterno.

E cessaram os deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos.

Cessou o influxo demoníaco de luzes sibilantes, piscantes, dinâmicas

Absurdamente dinâmicas!

As luzes, que patamarizavam as coisas banais, grandes, inúteis

Caiu o patamar.

Apagou a luz.

 

Por um instante metafísico, não houve nada.

 

Mas logo após um Fogo acendeu,

Num casal que se amou no escuro

E numa chama de vela que dançava projetada nos céus.

Nos céus, por deus!

Acendeu o fogo também na família de cara estranha

que sorriu e se assentou sussurrando na sombra

Como foi o dia, Como foi a aula, do que falariam

pouco importa, dado o quase surreal fato de simplesmente falarem.

E deu-se o lampejo de humanidade, incendiou da escola

à fábrica e derreteu na chama as chaves-mãos do operário

Que com cinco dedos, agora conscienciosamente humanos

Sentou pra conversar com José

Que pouco perguntava E agora.

 

E todo o universo renasceu, dir-se-ia nunca ter existido

E houve amor

Pois num instante metafísico, foram todos humanos.

 

 

Antor.

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