Valquíria
Canto I – Paradoxo
Inócua abstração me toca, me move
Assonância de sensações provoca, ilumina
Etérea inspiração retoma e desatina
Sinestesia sincera esparrama e envolve.
Sangrar passivo amor do peito
Atenuar altruísmo triunfal
Que, por contraditório, o fez perfeito
Um legado, destino, herança banal.
Enfim, aprendo e ministro oxímoros
Cálida frieza, errante estrofe em beleza
Colmar infinito relevo por destreza.
Não sei d’onde vem, nem aonde vai
Agradeço, contudo, um mistério absoluto
Que reinou, intocável, em antítese e anacoluto.
Canto II – Noite
Vida, sinistra professora de melancolia;
Abismo arcaico, harpa de fundo
Inefável instante, corre-me o mundo,
Esvazia-se, areia poeril, à revelia.
Procuro a risada, busco um sorriso
Encontro-a calada, trêmula esfinge
Fuligem nos olhos, escarlate narciso
Enigma hipócrita e vermelho me cinge.
Narciso, acordai! Não vês que o procuram?
Pois se és enigma, se estás vil e noturno
Torna-te perspícuo, acessível, diurno.
Reinaste outrora em sinceridade e poesia
Que o extremo sono a calaste, duvido
Já enxergo sob a noite, espero, um ruído.
Canto III- Magnânime
Brado brancas brisas belas!
Enxergo, enfim, diáfano horizonte
Nova, longa e rígida ponte
Conduz-me ao mesmo mar das caravelas.
Acordaste, a curar a besta que sangra
A colher um vigor derramado
Pois o vermelho, instinto deflagra
Diamante bruto a ser lapidado.
Vi anjos caírem, estrelas cessarem
Sob tênue perseverança, esperei ansioso
Manto profundo, cego espectro ocioso.
Recompensado fui, porém,
Posto que, ao ver o dia se acabar, e a noite invadindo
Contemplei o crepúsculo; Era lindo.
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